domingo, 25 de outubro de 2009

Transmittens - Kansas - USA

Por Cesar Zanin

Para começar a escrever este texto eu digitei Transmittens no Google.
Os primeiros resultados foram os óbvios: a pagina do duo no myspace, perfil sobre eles no last.fm, entrada no All Music Guide e o site próprio trasmittens.com.
Fui visitando um a um.

O site próprio está inativo.
A entrada no All Music Guide trata de um outro Transmittens, um disco de techno-industrial de 98/99; nada a ver com o duo indiepop em questão aqui.

A melhor surpresa foi o portal cultural lawrence.com, da cidade em Kansas, EUA, onde moram Jen Weidl e Danny Rowland.

(foto por Richard Gintowt)

No portal você encontra uma das poucas entrevistas disponíveis deles, a única que encontrei. Melhor, com direito ao áudio da entrevista, no podcast, e download de um álbum, com 11 canções, montado especialmente para o portal, em mp3; e tudo isso grátis.

Jen e Danny se conheceram em Cincinatti, Ohio, onde tocavam juntos numa banda chamada The Vantage. Nessa banda Danny era o baterista e Jean era a baixista, e o som era outro.
Tornaram-se amigos, então namorados, e por fim foram viver juntos na cidade que Burroughs escolheu para si. Eles atualmente estudam na Universidade de Kansas.
Ha quatro anos o casal mora em Lawrence, numa casa repleta de instrumentos musicais e produtos da cultura pop.

Conheci Danny e Jen por conta da turnê que fiz com o meu projeto Zanin’s Magic Crayon na América do Norte entre agosto e setembro de 2009. Meu filho me acompanhou nessa empreitada.
Desde que o organizador do Nebraska Pop Festival, que foi a pessoa que me convidou para tocar lá - originando a idéia da turnê, me passou o contato de Danny, eu me deparei com o que eu considero ‘arte vivente’, no melhor estilo DIY.
Danny organizou um show para os Transimttens junto com Zanin’s Magic Crayon e o projeto experimental/psicodélico Cloud Dog na casa de shows Eighth Stgreet Taproom de Lawrence.

Seria a nona etapa da turnê do Zanin’s Magic Crayon.
Tínhamos saído de Chicago, onde na noite anterior tinhamos tocado num bar chamado Rony’s com o pitoresco Tinycakes. Nesse mesmo bar um certo Calvin Johnson tinha tocado uma semana antes da gente. Foi lá que conheci o pessoal de uma outra banda que terei prazer em escrever a respeito num futuro texto: I Luv Luv Birds.

Chegando na rodoviária de Lawrence, que de rodoviária só tem o nome - é um posto de gasolina longe do centro e meio isolado de tudo, pegamos um ônibus para o centro e caminhamos até a casa onde faríamos o show daquela noite.
Era dia ainda, a casa estava fechada.
Não tínhamos almoçado, nem tínhamos onde ficar - a pessoa que tinha concordado em nos hospedar através do CouchSurfing não dava mais sinal de vida.

Batemos na porta do bar. Veio atender um cara com cara de integrante de banda. Era o dono.
Antes mesmo de começarmos a conversar ele já nos convidou para entrar, provavelmente por nos ter visto com os cases em mãos.
Assim que entramos já pude ver um mural repleto de cartazes e flyers de shows e turnês. O maior cartaz, em destaque, era sobre o show do Grant Hart que tinha acontecido ali três dias antes.
Além do papo interessante e agradável, ele nos apresentou sua filhinha, que estava no carrinho de bebê do lado do balcão onde ficam os clientes, e por iniciativa própria pegou o telefone - daqueles a disco! - e agilizou nossa estadia, conseguindo encontrar nossa anfitriã sumida do CouchSurfing e intermediando o aluguel de um carro.

(Jeremy, o anjo da guarda, dono de bar com cara de integrante de banda)

Ok, eu não esqueci que este texto é sobre o Transmittens; uma vez devidamente instalados, voltamos ao bar na hora marcada com Danny e Jeremy (esse era o nome do dono de bar mais anjo da guarda de nossa turnê).

Danny e Jen formam um dos casais mais tímidos que já conheci. Ele freqüentemente com tiradas/piadinhas autodepreciativas – principalmente (mas não somente!) no que diz respeito à música, e ela constantemente rindo sem graça.

Começamos a passagem de som e já ali o casal mostrou sua força, com teclado, guitarra, drum machine e belos vocais.
Mesmo eles não gostando de fazer shows, e depois descobriríamos porque, era possível testemunhar o talento e a sensibilidade musical de ambos, de longe, de primeira.

O som do Transmittens é tosco.
Sim, tosco.
E ao mesmo tempo muito bem feito. Bonito.
Se você sabe o que indiepop quer dizer, e, principalmente, se você conhece o som da Rose Melberg e de bandas como The Field Mice, Beat Happening e Magnetic Fields, então não preciso me delongar para explicar a dualidade tosqueira/beleza dos Transmittens.

Passagem de som feita, o pessoal das três bandas começou a preparar a banquinha de material a ser vendido - merch, e a confraternizar.
Foi aí que Danny percebeu que esqueceu os CDs do Transmittens em casa. Jen riu sem graça.
Então nos chamaram para irmos juntos, a pé. No caminho fomos conversando sobre assuntos vários, talvez com ênfase à música,

O EP que eles nos deram enquanto passeávamos pelas ruas do centro de Lawrence chama-se Our Dreams. É o lançamento número 32 do selo inglês Wee Pop!, em formato CD 3 polegadas, artesanal - bem cara de fanzine, com tiragem de apenas 160 copias.

Os três shows da noite foram bem recebidos.

Transmittens tocaram primeiro, abrindo o set com uma versão maravilhosa para a maravilhosa I Love You Like The Way I Used To Do, do Rocketship.

Engraçado como o público em geral não reage com entusiasmo quando se depara com indiepop.
Sabe aquele certo sorriso, aquela certa tristeza? A grande maioria confunde com infantilidade, ou simplesmente não tem saco.

(Transmittens ao vivo)

Eu amo.
Assistir eles tocando canções do calibre de Balloons In the Sky, Meet Me At the Swings, Everytime You Cry, My Heart's In the Dumpster e Fingers Crossed, assim de tão perto, foi algo incrível!

Depois dos três shows (aliás o público de Lawrence dançou e aplaudiu Zanin’s Magic Crayon e Cloud Dog bastante - foi emocionante), ficamos todos ainda conversando animadamente por um tempo, antes de irmos dormir.
Tão animadamente que eu e meu filho acabamos esquecendo nossas jaquetas - com nossos passaportes - dentro do bar, no palco!
E só fomos perceber no dia seguinte, dentro do carro!
Se não fosse a simpática dona do café vizinho, que me passou o número do celular do nosso anjo da guarda, Jeremy, estaríamos até agora na calçada batendo na porta do bar e blasfemando, com o Danny, que estava na faculdade, ao telefone, sem saber o que fazer. Jeremy veio ao nosso encontro após dirigir por 70 km, com sono, desde sua casa em Kansas City.

(meu filho Lauro praguejando na porta do bar)

Danny sonha em ter um disco do Transmittens lançado pela K recs; se eu tivesse chegado em Chicago uma semana antes eu sinceramente teria tentado abordar o Calvin, para indicar Transmittens! Ou então se Calvin se dignasse a comparecer ao nosso show em Olympia, WA que aconteceria dias depois... Hehe.

sábado, 17 de outubro de 2009

Wry, Sesc Vila Mariana, 08.10.09 - Supernova - Especial Shoegaze


Com um pouco de atraso, conto aqui sobre o show do Wry no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, no último dia 8 de outubro, o último show da turnê do CD She Science no Brasil após a volta dos meninos de Sorocaba ao país.


Primeiro lugar, o imprevisto. Quinta-feira, saíram de Sorocaba cinco horas antes do show, com o intuito de chegar mais cedo e passar o som. Eles nunca gastaram mais de uma hora e meia para chegar em São Paulo (a viagem é de 90 km), mas levaram cinco horas. Resultado, chagaram 20h20, 10 minutos antes do horário previsto para o início do show.

Pressionada pelo pessoal da técnica do Sesc, a banda teve que encurtar o repertório e, praticamente, passar o som no palco, com tudo plugado. Apesar dos percalços, o Wry fez um show maravilhoso. Como de costume, Mario foi o entertainer na noite dedicada ao som shoegaze. Não faltaram olhares para o chão durante a execução das músicas, especialmente do baixista W27, que parece tocar em transe, mas Mario é uma simpatia, sempre puxando papo e pedindo para que luzes fossem jogadas sobre a plateia, "para ver quem veio".

E o público que encheu meio auditório do Sesc sabia que nada os decepcionaria. Eu não via o Wry há anos. Salvo engano ou excesso de álcool, não consegui vê-los da última vez que eles estiveram no Brasil durante os 7 anos em que ficaram na Inglaterra gravando, vivendo, sofrendo e burilando seus sons na friaca britãnica, conhecendo gente bacana como Tim Wheeler, Gordon Raphael, e seus ídolos do My Blood Valentine, com quem até tomaram umas e outras.

E realmente o show foi fantástico, perfeito, atraindo inclusive novo público para a banda, como por exemplo, minha mulher, Rosa Clara, que curte mesmo é uma boa MPB. No fim do show, ela me surpreendeu dizendo que gostou e afirmando que "o barulho do Wry fazia todo o sentido, porque você vê que eles tem uma proposta, é arte pura". E é verdade.

Mesmo sem poder exibir as projeções que pretendiam mostrar, a banda foi coesa e escolheu o melhor do passado e do presente da banda, como numa prestação de contas de tudo o que viveram e aprenderam nesses mais de 15 anos de estrada (o meu primeiro contato com o Wry foi em 1995, quando eles foram a Santos tocar com o Train Crash os sons da demo Morangoland).

Houve canções antigas, como um trecho de "Under The Sky", de 1998, no fim do show, e novidades como "Dois Corações e o Sol", de She Science, lançada este ano, de versos belos como "quero entender os motivos de se esconder/de fugir do mundo"... "esses meus sonhos são memórias do que será/ então só quero dois corações e o sol". Outro destaque é a novíssima "nossa estória começa agora". E, claro, não poderia faltar a canção preferida de Mario (e a minha também): "Different From Me", lançada ano passado.


Fantástico também foi poder rever o talento de Renato Bizar na bateria. Renato voltou a banda este ano, com o retorno do grupo ao Brasil. A saudade bateu e ele havia voltado pra Sorocaba antes do grupo. Sua alegria em tocar é contagiante. Impressionante também a quantidade de ruídos e fluidos que Luciano Marcello e Mario tiram de suas guitarras, formando uma parede intensa de som e fúria. Que eles continuem. Amém. Só faltou "Sleeper".

Set List

1. Sister - 2. Never Sleep (When I Go) - 3. Bitter Breakfast - 4. Million Stars In Your Eyes - 5. Disorder - 6. Dois Corações e o Sol - 7. Nossa Estória Começa Agora - 8. In The Hell Of My Head - 9. Cancer com interferência de Under de Sky no final barulhento.

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William Leonotti -W27

Imprensa: Rogerio Garcia
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